Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Wednesday, March 21, 2007

Santo Aphraate (?-c. 345), monge e bispo em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque:

As Exposições, n° 21

«Se acreditásseis em Moisés, acreditaríeis também em mim»

Moisés foi perseguido, tal como Jesus foi perseguido. Esconderam-no por altura do seu nascimento para que não fosse morto pelos perseguidores; a Jesus, obrigaram-no a fugir para o Egipto logo que nasceu, para que Herodes, o seu perseguidor, não o matasse. Na altura em que nasceu Moisés, afogavam as crianças no rio; quando nasceu Jesus, mataram os meninos de Belém e dos arredores. A Moisés, Deus disse: "Morreram aqueles que queriam a tua vida" (Ex 4,19); o anjo disse a José, no Egipto: "Levanta-te, toma o menino e volta para a terra de Israel, porque morreram os que queriam a sua vida" (Mt 2,20). Moisés fez o povo sair da servidão do Faraó; Jesus salvou todos os povos da servição de Satanás... Quando Moisés imolou o cordeiro, os primogénitos dos Egípcios foram mortos; Jesus tornou-se o verdadeiro cordeiro quando o crucificaram... Moisés fez descer o maná para alimentar o seu povo; Jesus deu o seu próprio corpo aos povos. Moisés amaciou as águas amargas com a madeira; Jesus amaciou a nossa amargura sendo crucificado no madeiro. Moisés fez descer a Lei para o povo; Jesus deu Testamentos aos pobvos. Moisés venceu os Amalecitas estendendo as suas mãos; Jesus venceu Satanás com o sinal da cruz.Moisés fez sair água do rochedo para o povo: Jesus enviou Simão Pedro levar o seu ensinamento aos povos. Moisés retirava o véu do rosto para falar com Deus; Jesus retirou o véu que cobria o rosto dos povos para que eles ouvissem e recebessem o seu ensinamento (2Co 3,16). Moisés impôs as mãos aos anciãos e eles receberam o sacerdócio; Jesus impôs a mão aos apóstolos e eles receberam o Espírito Santo. Moisés subiu à montanha e aí morreu; Jesus subiu aos céus e sentou-se à direita de Seu Pai.

(Fonte: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 21 mar. 2006.)

Tuesday, March 20, 2007

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja

Sermão 124



« Queres recuperar a saúde?»



Os milagres de Cristo são símbolos das diferentes circunstâncias da nossa salvação eterna...; aquela piscina é o símbolo do dom precioso que nos faz o Verbo do Senhor. Em poucas palavras, aquela água é o povo judeu; os cinco pórticos são a Lei escrita em cinco livros. Aquela água está, pois, rodeada por cinco pórticos tal como o povo estava rodeado pela Lei que o definia. A água que se agitava e se turvava é a Paixão do Salvador no meio desse povo. Quem descesse à água era curado, mas só um, para representar a unidade. Os que não podem suportar que se lhes fale da Paixão de Cristo são orgulhosos; não querem descer e não são curados. "O quê?", dizem esses homens altivos. "Acreditar que um Deus encarnou, que um Deus tenha nascido de uma mulher, que um Deus tenha sido crucificado, flagelado, que tenha sido coberto de chagas, que tenha morrido e sido sepultado? Não, jamais acreditaria nessa humilhações de Deus: são indignas dele!"Deixai falar aqui o vosso coração mais do que a vossa cabeça. As humilhações de Deus parecem indignas aos arrogantes e é por isso que eles estão tão afastados da cura. Guardai-vos, pois, desse orgulho; se desejais a vossa cura, aceitai descer. Haveria razão para vos alarmardes, se vos dissessem que Cristo tinha sofrido qualquer mudança ao encarnar. Mas não... O vosso Deus mantém-se como era, não receeis; Ele não morre e impede-vos de morrer. Sim, Ele permanece o que é; nasce de uma mulher, mas fá-lo segundo a carne... Foi como homem que Ele foi preso, amarrado, flagelado, coberto de ultrages e, por fim, crucificado e morto. Porquê vos aterrorizardes? O Verbo do Senhor permanece eternamente. Quem repudia as humilhações de um Deus não quer ser curado da ferida mortal do seu orgulho.



Pela sua encarnação, nosso Senhor Jesus Cristo restituiu, pois, a esperança à nossa carne. Tomou para si os frutos tão bem conhecidos desta terra: o nascimento e a morte. O nascimento e a morte são, com efeito, bens que a terra possuia em abundância; mas não se encontrava nela nem a ressurreição nem a vida eterna. Ele colheu aqui os frutos desgraçados desta terra ingrata e deu-nos em troca os bens dos Seu reino celestial.



(Fonte: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 20 mar. 2007.)

Saturday, January 06, 2007

Respectivos aos dias 07 e 13 de Janeiro de 2007

07/01
Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense
II Sermão para a Epifania
A luz do mundo revelada às nações


“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, chegou a tua luz!” (Is, 60, 1) Chegou realmente a tua luz; ela estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu. O Menino nascera, mas não foi conhecido enquanto o dia da luz não começou a revelá-lo. […] Erguei-vos, vós que estais sentados nas trevas! Dirigi-vos para esta luz; ela ergueu-se nas trevas, mas trevas não conseguiram abarcá-la. Aproximai-vos e sereis iluminados; na luz vereis a luz, e dir-se-á sobre vós: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5, 8). Vede que a luz eterna se acomodou aos vossos olhos, para que Aquele que habita uma luz inacessível possa ser visto pelos vossos olhos fracos e doentes. Descobri a luz numa lâmpada de argila, o sol na nuvem, Deus num homem, no pequeno vaso de argila do vosso corpo o esplendor da glória e o brilho da luz eterna! […]

Nós de damos graças, Pai da luz, por nos teres chamado das trevas à tua luz admirável. […] Sim, a verdadeira luz, mais do que isso, a vida eterna, consiste em Te conhecer, a Ti, único Deus, e ao Teu enviado Jesus Cristo. […] É certo que Te conhecemos pela fé, e temos como seguro que um dia Te conheceremos na visão. Até lá, aumenta-nos a fé. Conduz-nos de fé em fé, de claridade em claridade, sob a moção do teu Espírito, para que penetremos cada dia mais nas profundezas da luz! […] Que a fé nos conduza à visão face a face e que, à semelhança da estrela, ela nos guie até ao nosso chefe nascido em Belém. […]

Que alegria, que exultação para a fé dos magos, quando virem reinar, na Jerusalém das alturas, Aquele que adoraram quando vagia em Belém! Viram-no aqui numa habitação de pobres; lá, vê-Lo-emos no palácio dos anjos. Aqui, nos paninhos; lá, no esplendor dos santos. Aqui, no seio de sua Mãe; lá, no trono de seu Pai.


08/01
Cromácio de Aquileia (?-407), bispoSermões sobre a Epifania, 34; CCL 9A, 156-157
Do baptismo de Cristo ao nosso baptismo
Que grande mistério nesse baptismo de nosso Senhor e Salvador! O Pai faz-se ouvir do alto do céu, o Filho é visto na terra, o Espírito Santo mostra-se na forma de uma pomba. Com efeito, não há verdadeiro baptismo nem verdadeira remissão dos pecados onde não há a verdade da Trindade... O baptismo que a Igreja dá é único e verdadeiro; só é, portanto, uma vez, e ao ser-se nele mergulhado uma só vez, fica-se purificado e renovado. Purificado, porque se deixou a mancha dos pecados; renovado, porque se ressuscita para uma vida nova depois de se ter despido a velharia do pecado...Portanto os céus abriram-se no baptismo do Senhor, a fim de que, pelo banho do novo nascimento, se descubra que os reinos dos céus estão abertos aos crentes, segundo esta palavra do Senhor: «Ninguém, a menos que nasça da água e do Espírito, poderá entrar no Reino de Deus» (Jo 3,5). Entrou, pois, aquele que renasceu e que não negligenciou a preservação do seu baptismo...Uma vez que Nosso Senhor viera dar o novo baptismo para a salvação do género humano e remissão de todos os pecados, Ele próprio quis ser o primeiro baptizado, não para se despojar do pecado, pois não cometera pecado, mas para santificar as águas do baptismo com o fim de destruir os pecados de todos os crentes renascidos pelo baptismo.


09/01
S. Jerónimo (347-420), padre, tradutor da Bíblia, doutor da IgrejaComentário sobre o Evangelho de Marcos, Pl2, 137-138

«Eis um ensinamento novo, proclamado com autoridade»

Jesus dirigiu-se então à sinagoga de Cafarnaúm e pôs-se a ensinar. As pessoas ficaram espantadas com o seu ensinamento, pois Jesus falava «não como os escribas, mas como um homem que tem autoridade.» Ele não dizia, por exemplo, «Palavra do Semhor!» ou « Assim se exprime Aquele que me enviou». Não. Jesus falava em seu próprio nome; era Ele que tinha falado outrora pela voz dos profetas. Já é bom poder dizer, apoiando-se num texto, «Está escrito...»; ainda melhor é proclamar, em nome do próprio Senhor, «Palavra do Senhor!»; mas é completamente diferente poder afirmar, como Jesus em pessoa, «Em verdade, eu vo-lo declaro!...». Como ousas dizer «Em verdade, eu vo-lo declaro!» se não és aquele que outrora deu a Lei e falou aos profetas?...
«As pessoas ficaram espantadas com o seu ensinamento.» O que ensinava então Ele de tão novo? O que dizia de tão novo? Não fazia senão repetir o que havia declarado pela voz dos profetas. Mas as pessoas estavam admiradas, porque Ele não ensinava pelo método dos escribas. Ele ensinava como tendo Ele próprio autoridade; não como rabi, mas como Senhor. Não falava referindo-se a um maior do que Ele. Não. A palavra que proferia era a sua; e, se ele mantinha, no fim de contas, essa linguagem de autoridade, era porque afirmava presente Aquele de quem falara através dos profetas: «Eu que vos falava, aqui estou!» (Is 52,6)... É por isso que Jesus ameaça o demónio que se exprime pelo possesso, na sinagoga: «Silêncio! Disse Ele, sai desse homem.» Quer dizer: «Sai da minha casa; que fazes tu naquilo que é a minha morada? Eu quero lá entrar. Cala-te! Sai desse homem! Deixa essa morada que me foi preparada... Deus quere–a. Deixa o homem; ele pertence-me. Não quero que ele seja teu. Eu habito no homem; é o meu Corpo. Vai-te!»


10/01
Guigues, o Cartuxo (1083-1136), prior da Grande Cartuxa
"Fogos do Deserto"

“Muito antes de amanhecer, Jesus levantou-Se, foi para um lugar solitário e pôs-se em oração"

O próprio Jesus, Deus e Senhor, cuja força não tinha necessidade de apoio no retiro nem estava entravada pela sociedade dos homens, teve contudo o cuidado de nos deixar o seu exemplo. Antes do seu ministério de pregação e de milagres, submeteu-Se, na solidão, à prova da tentação e do jejum (Mt 4, 1ss.). Narra a Escritura que, deixando a multidão dos discípulos, subiu sozinho à montanha, para rezar (Mc 6, 46). Depois, na hora em que a sua Paixão estava iminente, abandona os discípulos e vai rezar sozinho (Mt 26, 36): exemplo máximo das vantagens da solidão para a oração, pois não deseja rezar ao lado dos companheiros, mesmo que sejam os apóstolos.

Não nos convém deixar passar em silêncio semelhante mistério, que a todos diz respeito. Ele, o Senhor, o Salvador do género humano, oferece-nos na Sua Pessoa um exemplo vivo. Sozinho no deserto, entrega-Se à oração e aos exercícios da vida interior – ao jejum, à vigília e aos outros frutos de penitência –, vencendo assim as tentações do adversário com as armas do Espírito.

Ó Jesus, aceito que, exteriormente, ninguém esteja comigo; mas que seja para que, no interior, esteja ainda mais contigo. Infeliz do homem só, se Tu não estás só com ele! E quantos homens se encontram entre a multidão, mas na realidade estão sós, porque não estão contigo. Gostaria de, contigo, nunca estar só. Porque, nesses momentos em que ninguém está comigo, nem por isso estou só; sou, eu próprio, uma multidão.


11/01
São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja
Vida de S. Francisco, Legenda Major 1, 5-6

“Jesus estendeu a mão e tocou-lhe”

Certo dia em que passeava a cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se inesperadamente com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso mas, lembrando-se da resolução de vida perfeita que tomara, e de que devia, antes de mais, vencer-se a si mesmo, se queria ser “soldado de Cristo” (2Tm 2, 3), saltou do cavalo para abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um beijo com o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por muito que olhasse para um lado e para o outro, não viu o leproso. Cheio de admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu não se deter neste acto de generosidade. […]
Abandonou-se então ao espírito de pobreza, ao gosto da humildade e aos impulsos de uma piedade profunda. Se até então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de horror, passou a fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si mesmo, sempre humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado que, nas palavras do profeta, “foi desprezado como um leproso” (Is 53, 3). Ia visitá-los com frequência, dava-lhes esmolas e, emocionado de compaixão, beijava-lhes afectuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar o que tinha, quereria dar-se a si mesmo – de maneira que, quando não levava dinheiro consigo, dava-lhes as suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para as distribuir.
Foi por esta altura que realizou a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os mendigos que fervilhavam no chão da basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da pobreza, escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes pelos farrapos com que o homem se cobria, e passou todo o dia na companhia dos pobres, a alma cheia de uma alegria que nunca, até então, conhecera.


12/01
S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bipo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre S. Mateus, 29, 1-3

"Quem pode perdoar os pecado senão Deus?"

"Trouxeram-lhe um paralítico". Os evangelistas contam que, depois de terem furado o tecto, desceram o doente e depuseram-no diante de Cristo, sem nada pedir, deixando Jesus fazer o que quisesse. No início do seu ministério, em toda a Judeia, era ele quem dava os primeiroas passos e não exigia uma fé tão grande; aqui são os outros que vêm a ele e foi-lhes necessária uma fé corajosa e viva: "Jesus, vendo a sua fé", diz o Evangelho, quer dizer, a fé dos que tinham transportado o paralítico... O doente também teria uma grande fé porque não se teria deixado transportar se não tivesse confiança em Jesus.
Perante tanta fé, Jesus mostra o seu poder e, com uma autoridade divina, perdoa os pecados ao doente, dando assim prova da sua igualdade com o Pai. Tinha já mostrado essa igualdade quando curou o leproso dizendo: "Quero, sê curado", quando acalmou o mar desencadeado e quando expulsou os demónios que nele reconheceram o seu soberano e o seu juiz... Aqui mostra-a primeiro sem espavento: não se tinha apressado a curar exteriormente os que lhe apresentavam. Começou por um milagre invisível; primeiro curou a alma do homem, perdoando-lhe os pecados. É certo que esta cura era infinitamente mais vantajosa para aquele homem, mas isso trazia pouca glória a Cristo. Então alguns, levados pela malvadez, quiseram prejudicá-lo; mas foram eles que, contra vontade, tornaram o milagre mais deslumbrante.


13/01
S. Pedro Crisólogo (cerca de 406 - 450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 30

"Come com os publicanos e com os pecadores!"

Deus é acusado de se inclinar sobre o homem, de se sentar perto do pecador, de ter fome de conversar com ele e sede do seu regresso, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência. Mas Cristo, meus irmãos, veio a este banquete; a Vida veio ao encontro destes convivas para que, condenados à morte, vivam com a Vida; a Ressurreição reclinou-se para que os que jaziam se ergam dos seus túmulos; a Bondade humilhou-se para elevar os pecadores até ao perdão; Deus veio até ao homem para que o homem chegue até Deus; o juiz veio à mesa dos culpados para poupar a humanidade da sentença de condenação; o médico veio a casa dos doentes para os restabelecer comendo com eles; o Bom Pastor inclinou o ombro para trazer a ovelha perdida ao redil da salvação.
"Ele come com os publicanos e com os pecadores!" Mas quem é pecador senão o que recusa ver-se como tal? Não é afundar-se no seu pecado e mesmo identificar-se com ele, o facto de deixar de se reconhecer pecador? E quem é injusto senão o que se considera justo?... Vamos, fariseu, confessa o teu pecado e poderás vir à mesa de Cristo; Cristo far-se-á pão para ti, esse pão que será partido para perdão dos teus pecados; Cristo tornar-se-á para ti o cálice, esse cálice que será derramado para remissão das tuas faltas. Vamos, fariseu, partilha a refeição dos pecadores e Cristo partilhará a tua refeição; reconhece-te pecador e Cristo comerá contigo; entra com os pecadores no festim do teu Senhor e poderás deixar de ser pecador; entra com o perdão de Cristo na casa da misericórdia.


Fonte: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em 06 jan. 2007.

Sunday, November 26, 2006

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona ( África do Norte) e doutor da Igreja: Homilias sobre S. João

«O meu Reino não vem deste mundo»


Escutai todos, judeus e gentios...; escutai, todos os reinos da terra! Eu não impeço o vosso domínio sobre este mundo, «o meu Reino não é deste mundo» (Jo 18,36). Não temais, pois, com esse medo insensato que dominou Herodes quando lhe anunciaram o meu nascimento... Não, diz o Salvador, «O meu Reino não é deste mundo». Vinde todos a um Reino que não é deste mundo; venham a ele pela fé; que o medo não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o Filho de Deus diz, falando do Pai: «Por Ele, fui eleito rei sobre Sião, sobre a montanha sagrada» (Sl 2,6). Mas essa Sião e essa montanha não são deste mundo.

O que é com efeito o seu Reino? São os que acreditam nele, aqueles a quem diz: «Não sois do mundo, tal como eu não sou do mundo» (cf. Jo 17,16). E, contudo, Ele quer que estejam no mundo; pede a seu Pai: « Não te peço que os retires do mundo mas que os guardes do mal» (Jo 17,15). É que Ele não disse: «O meu Reino não está neste mundo», mas sim «não é deste mundo; se fosse deste mundo, os meus servos viriam combater para que eu não seja entregue».

Com efeito, o seu Reino é, na verdade, aqui, na terra até ao fim do mundo; até à colheita, o joio está misturado com o trigo (Mt 13,24s)... O seu Reino não é deste mundo porque Ele é como um viajante neste mundo. Àqueles sobre quem reina, diz: « Não sois do mundo, pois escolhi-vos do meio do mundo» (Jo 15,19). Eles eram, portanto, deste mundo, quando ainda não eram o seu Reino e pertenciam ao príncipe do mundo... Todos os que são gerados da raça de Adão pecador pertencem a este mundo; todos aqueles que foram regenerados em Jesus Cristo pertencem ao seu Reino e já não são deste mundo.«Deus arrancou-nos efectivamente do poder das trevas e transportou-nos para o Reino de seu Filho muito amado» (Col 1,13).

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 26 nov. 2006).

Friday, November 24, 2006

Concílio Vaticano II: Constituição sobre a Igreja no mundo actual "Gaudium et Spes"


"Não é o Deus dos mortos, mas dos vivos"


É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a ansiedade do homem: o prolongamento da longevidade biológica não pode satisfazer aquele desejo duma vida ulterior, invencivelmente radicado no seu coração.
Enquanto, diante da morte, qualquer imaginação se revela impotente, a Igreja, ensinada pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena. A fé cristã ensina que a própria morte corporal, de que o homem seria isento se não tivesse pecado - acabará por ser vencida, quando o homem for pelo omnipotente e misericordioso Salvador restituído à salvação que por sua culpa perdera. Com efeito, Deus chamou e chama o homem a unir-se a Ele com todo o seu ser na perpétua comunhão da incorruptível vida divina. Esta vitória, alcançou-a Cristo ressuscitado, libertando o homem da morte com a própria morte. Portanto, a fé, que se apresenta à reflexão do homem apoiada em sólidos argumentos, dá uma resposta à sua ansiedade acerca do seu destino futuro; e ao mesmo tempo oferece a possibilidade de comunicar em Cristo com os irmãos queridos que a morte já levou, fazendo esperar que eles alcançaram a verdadeira vida junto de Deus.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 24 nov. 2006).

Thursday, November 23, 2006

Missal Romano: Prefácio para a festa da dedicação de uma igreja


"A minha casa será uma casa de oração"


É verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
oferecer-te a nossa acção de graças, sempre e em todo o lugar,
a Ti, Pai Santo, Deus eterno e omnipotente,
por Cristo, nosso Senhor.

Nesta casa que Tu nos deste
e onde acolhes o Teu povo que caminha para Ti,
Tu nos ofereces um sinal maravilhoso da Tua aliança:
aqui, Tu constrois, para Tua glória,
o templo vivo que somos nós;
aqui, edificas a Igreja, a Tua Igreja universal,
para que se constitua o Corpo de Cristo;
e essa obra completar-se-á em visão beatífica
na Jerusalém celeste.


por isso que, com a multidão imensa dos santos,
neste lugar que Tu consagraste,
nós Te bendizemos, Te glorificamos
e Te damos graças cantando:
"Santo, Santo, Santo!
Senhor Deus do universo!"

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 23 nov. 2006).

S. Basílio (cerca de 330 - 379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja Homilia sobre a humildade, 5-6


"O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens"


"Quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado" (Mt 23,12)... Imitemos o Senhor que desceu do céu até à última humilhação e que, em recompensa, foi exaltado, desde o ínfimo lugar até à altura que lhe convinha. Descobramos tudo o que o Senhor nos ensina para nos conduzir à humildade.

Ainda menino, ei-lo já numa gruta, deitado não num berço mas numa mangedoura. Na casa de um operário e de uma mãe sem recursos, submeteu-se à mãe e ao seu esposo. Deixando-se ensinar, escutando aqueles de quem não tinha precisão, ele interrogava; contudo, de tal forma que, pelas suas interrogações, as pessoas espantavam-se com a sua sabedoria. Submete-se a João e o Mestre recebe o baptismo das mãos do servo. Nunca resistiu aos que se erguiam contra ele e não exibiu o seu poder invencível para se libertar das mãos que o prendiam, mas deixou-se levar, como um impotente, e na medida em que achou bem entregou-se nas mãos de um poder efémero. Compareceu diante do sumo-sacerdote na qualidade de acusado; conduzido diante do governador, submeteu-se ao seu julgamento e, quando podia responder aos caluniadores, suportou em silêncio as suas calúnias. Coberto de escarros por escravos e vis criados, foi enfim entregue à morte, a uma morte infamante aos olhos dos homens. Eis como se desenrolou a sua vida de homem, desde o nascimento até ao fim. Mas, depois de uma tal humilhação, fez brilhar a sua glória... Imitemo-lo para chegarmos, também nós, à glória eterna.

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 23 nov. 2006).

Wednesday, November 22, 2006

Respectivos aos dias 21 e 22 de Navembro

Bem-aventurada Isabel da Trindade (1880-1906), carmelitaÚltimo retiro, 42-44


“Hoje, é preciso que eu fique em tua casa”


“Só em Deus repousa a minha alma; d’Ele vem a minha salvação. Só Ele é o meu rochedo e a minha salvação, a minha fortaleza; jamais vacilarei” (Sl 61, 2-3). Eis o mistério que canta hoje a minha lira! Como a Zaqueu, o meu Mestre disse-me: “Desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”. Desce depressa, mas para onde? Ao mais profundo de mim própria: depois de me ter deixado a mim própria, separado de mim própria, despojado de mim própria, numa palavra, sem mim própria.

“É preciso que fique em tua casa”. É o meu Mestre que me exprime esse desejo! Meu Mestre quer habitar em mim, com o Pai e o seu Espírito de amor, porque, segundo a expressão do discípulo amado, eu tenho “sociedade” com eles, eu estou em comunhão com eles (1Jo 1,3). “Já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus”, diz S. Paulo (Ef 2,19). Eis como eu entendo ser “ concidadãos dos santos e membros da família de Deus”: é vivendo no seio da tranquila Trindade, no meu abismo interior, nessa “fortaleza inexpugnável do santo recolhimento” de que fala S. João da Cruz...

Oh! Que bela que é esta criatura assim despojada, salva de si própria... Ela sobe, eleva-se acima dos sentidos, da natureza; ultrapassa-se a si própria; ultrapassa também toda a alegria, assim como toda a dor, e passa através das nuvens, para só descansar quando tiver penetrado “no interior” daquele que ela ama e que lhe dará, ele próprio, o repouso... O Mestre disse-lhe: “Desce depressa”. É ainda sem de lá sair que ela viverá, à imagem da Trindade imutável, num eterno presente..., tornando-se, por um olhar sempre mais simples, mais unitivo, “ o esplendor da sua glória” (Hb 1,3), dito de outro modo, “louvor e glória” da suas adoráveis perfeições.



S. Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo Conversa com Motovilov


"Fazei render a mina durante a minha viagem"


É na aquisição do Espírito Santo que consiste o verdadeiro objectivo da nossa vida cristã; a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras acções virtuosas feitas em nome de Cristo não são mais do que meios para o adquirir... Sabeis o que é adquirir dinheiro? Com o Espírito Santo, é parecido.

Para a gente comum, o objectivo da vida consiste na aquisição de dinheiro, no ganho. Além disso, os nobres desejam adquirir honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, fonte de graças, semelhante aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, o homem-Deus, compara a nossa vida a um mercado e a nossa actividade na terra a um comércio. Ele recomenda a todos: "Façam render até que eu volte" e S. Paulo escreve: "Tirai bom partido do tempo presente porque os nossos dias são incertos" (Ef 5,16). Por outras palavras: Despachai-vos para obterdes bens celestes negociando mercadorias terrestres. Essas mercadorias não são senão as acções virtuosas praticadas em nome de Cristo e que nos conferem a graça do Espírito Santo.

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 22 nov. 2006).