Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Sunday, November 26, 2006

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona ( África do Norte) e doutor da Igreja: Homilias sobre S. João

«O meu Reino não vem deste mundo»


Escutai todos, judeus e gentios...; escutai, todos os reinos da terra! Eu não impeço o vosso domínio sobre este mundo, «o meu Reino não é deste mundo» (Jo 18,36). Não temais, pois, com esse medo insensato que dominou Herodes quando lhe anunciaram o meu nascimento... Não, diz o Salvador, «O meu Reino não é deste mundo». Vinde todos a um Reino que não é deste mundo; venham a ele pela fé; que o medo não vos torne cruéis. É verdade que, numa profecia, o Filho de Deus diz, falando do Pai: «Por Ele, fui eleito rei sobre Sião, sobre a montanha sagrada» (Sl 2,6). Mas essa Sião e essa montanha não são deste mundo.

O que é com efeito o seu Reino? São os que acreditam nele, aqueles a quem diz: «Não sois do mundo, tal como eu não sou do mundo» (cf. Jo 17,16). E, contudo, Ele quer que estejam no mundo; pede a seu Pai: « Não te peço que os retires do mundo mas que os guardes do mal» (Jo 17,15). É que Ele não disse: «O meu Reino não está neste mundo», mas sim «não é deste mundo; se fosse deste mundo, os meus servos viriam combater para que eu não seja entregue».

Com efeito, o seu Reino é, na verdade, aqui, na terra até ao fim do mundo; até à colheita, o joio está misturado com o trigo (Mt 13,24s)... O seu Reino não é deste mundo porque Ele é como um viajante neste mundo. Àqueles sobre quem reina, diz: « Não sois do mundo, pois escolhi-vos do meio do mundo» (Jo 15,19). Eles eram, portanto, deste mundo, quando ainda não eram o seu Reino e pertenciam ao príncipe do mundo... Todos os que são gerados da raça de Adão pecador pertencem a este mundo; todos aqueles que foram regenerados em Jesus Cristo pertencem ao seu Reino e já não são deste mundo.«Deus arrancou-nos efectivamente do poder das trevas e transportou-nos para o Reino de seu Filho muito amado» (Col 1,13).

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 26 nov. 2006).

Friday, November 24, 2006

Concílio Vaticano II: Constituição sobre a Igreja no mundo actual "Gaudium et Spes"


"Não é o Deus dos mortos, mas dos vivos"


É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a ansiedade do homem: o prolongamento da longevidade biológica não pode satisfazer aquele desejo duma vida ulterior, invencivelmente radicado no seu coração.
Enquanto, diante da morte, qualquer imaginação se revela impotente, a Igreja, ensinada pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena. A fé cristã ensina que a própria morte corporal, de que o homem seria isento se não tivesse pecado - acabará por ser vencida, quando o homem for pelo omnipotente e misericordioso Salvador restituído à salvação que por sua culpa perdera. Com efeito, Deus chamou e chama o homem a unir-se a Ele com todo o seu ser na perpétua comunhão da incorruptível vida divina. Esta vitória, alcançou-a Cristo ressuscitado, libertando o homem da morte com a própria morte. Portanto, a fé, que se apresenta à reflexão do homem apoiada em sólidos argumentos, dá uma resposta à sua ansiedade acerca do seu destino futuro; e ao mesmo tempo oferece a possibilidade de comunicar em Cristo com os irmãos queridos que a morte já levou, fazendo esperar que eles alcançaram a verdadeira vida junto de Deus.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 24 nov. 2006).

Thursday, November 23, 2006

Missal Romano: Prefácio para a festa da dedicação de uma igreja


"A minha casa será uma casa de oração"


É verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
oferecer-te a nossa acção de graças, sempre e em todo o lugar,
a Ti, Pai Santo, Deus eterno e omnipotente,
por Cristo, nosso Senhor.

Nesta casa que Tu nos deste
e onde acolhes o Teu povo que caminha para Ti,
Tu nos ofereces um sinal maravilhoso da Tua aliança:
aqui, Tu constrois, para Tua glória,
o templo vivo que somos nós;
aqui, edificas a Igreja, a Tua Igreja universal,
para que se constitua o Corpo de Cristo;
e essa obra completar-se-á em visão beatífica
na Jerusalém celeste.


por isso que, com a multidão imensa dos santos,
neste lugar que Tu consagraste,
nós Te bendizemos, Te glorificamos
e Te damos graças cantando:
"Santo, Santo, Santo!
Senhor Deus do universo!"

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 23 nov. 2006).

S. Basílio (cerca de 330 - 379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja Homilia sobre a humildade, 5-6


"O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens"


"Quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado" (Mt 23,12)... Imitemos o Senhor que desceu do céu até à última humilhação e que, em recompensa, foi exaltado, desde o ínfimo lugar até à altura que lhe convinha. Descobramos tudo o que o Senhor nos ensina para nos conduzir à humildade.

Ainda menino, ei-lo já numa gruta, deitado não num berço mas numa mangedoura. Na casa de um operário e de uma mãe sem recursos, submeteu-se à mãe e ao seu esposo. Deixando-se ensinar, escutando aqueles de quem não tinha precisão, ele interrogava; contudo, de tal forma que, pelas suas interrogações, as pessoas espantavam-se com a sua sabedoria. Submete-se a João e o Mestre recebe o baptismo das mãos do servo. Nunca resistiu aos que se erguiam contra ele e não exibiu o seu poder invencível para se libertar das mãos que o prendiam, mas deixou-se levar, como um impotente, e na medida em que achou bem entregou-se nas mãos de um poder efémero. Compareceu diante do sumo-sacerdote na qualidade de acusado; conduzido diante do governador, submeteu-se ao seu julgamento e, quando podia responder aos caluniadores, suportou em silêncio as suas calúnias. Coberto de escarros por escravos e vis criados, foi enfim entregue à morte, a uma morte infamante aos olhos dos homens. Eis como se desenrolou a sua vida de homem, desde o nascimento até ao fim. Mas, depois de uma tal humilhação, fez brilhar a sua glória... Imitemo-lo para chegarmos, também nós, à glória eterna.

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 23 nov. 2006).

Wednesday, November 22, 2006

Respectivos aos dias 21 e 22 de Navembro

Bem-aventurada Isabel da Trindade (1880-1906), carmelitaÚltimo retiro, 42-44


“Hoje, é preciso que eu fique em tua casa”


“Só em Deus repousa a minha alma; d’Ele vem a minha salvação. Só Ele é o meu rochedo e a minha salvação, a minha fortaleza; jamais vacilarei” (Sl 61, 2-3). Eis o mistério que canta hoje a minha lira! Como a Zaqueu, o meu Mestre disse-me: “Desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”. Desce depressa, mas para onde? Ao mais profundo de mim própria: depois de me ter deixado a mim própria, separado de mim própria, despojado de mim própria, numa palavra, sem mim própria.

“É preciso que fique em tua casa”. É o meu Mestre que me exprime esse desejo! Meu Mestre quer habitar em mim, com o Pai e o seu Espírito de amor, porque, segundo a expressão do discípulo amado, eu tenho “sociedade” com eles, eu estou em comunhão com eles (1Jo 1,3). “Já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus”, diz S. Paulo (Ef 2,19). Eis como eu entendo ser “ concidadãos dos santos e membros da família de Deus”: é vivendo no seio da tranquila Trindade, no meu abismo interior, nessa “fortaleza inexpugnável do santo recolhimento” de que fala S. João da Cruz...

Oh! Que bela que é esta criatura assim despojada, salva de si própria... Ela sobe, eleva-se acima dos sentidos, da natureza; ultrapassa-se a si própria; ultrapassa também toda a alegria, assim como toda a dor, e passa através das nuvens, para só descansar quando tiver penetrado “no interior” daquele que ela ama e que lhe dará, ele próprio, o repouso... O Mestre disse-lhe: “Desce depressa”. É ainda sem de lá sair que ela viverá, à imagem da Trindade imutável, num eterno presente..., tornando-se, por um olhar sempre mais simples, mais unitivo, “ o esplendor da sua glória” (Hb 1,3), dito de outro modo, “louvor e glória” da suas adoráveis perfeições.



S. Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo Conversa com Motovilov


"Fazei render a mina durante a minha viagem"


É na aquisição do Espírito Santo que consiste o verdadeiro objectivo da nossa vida cristã; a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras acções virtuosas feitas em nome de Cristo não são mais do que meios para o adquirir... Sabeis o que é adquirir dinheiro? Com o Espírito Santo, é parecido.

Para a gente comum, o objectivo da vida consiste na aquisição de dinheiro, no ganho. Além disso, os nobres desejam adquirir honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, fonte de graças, semelhante aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, o homem-Deus, compara a nossa vida a um mercado e a nossa actividade na terra a um comércio. Ele recomenda a todos: "Façam render até que eu volte" e S. Paulo escreve: "Tirai bom partido do tempo presente porque os nossos dias são incertos" (Ef 5,16). Por outras palavras: Despachai-vos para obterdes bens celestes negociando mercadorias terrestres. Essas mercadorias não são senão as acções virtuosas praticadas em nome de Cristo e que nos conferem a graça do Espírito Santo.

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 22 nov. 2006).

Sunday, November 19, 2006

Respectivo aos evangelhos dos dias 19 e 20 de novembro de 2006.

Comentário ao Evangelho do dia feito por : Santo Efrém: "Na hora em que não pensais é que virá o Filho do homem"

Santo Efrém (cerca de 306 - 373), diácono na Síria, doutor da Igreja Comentário do Evangelho ou Diaterraron


"Na hora em que não pensais é que virá o Filho do homem"


Para impedir qualquer pergunta indiscreta acerca do momento da sua segunda vinda, Jesus declara: "Essa hora, ninguém a conhece, nem sequer o Filho" (Mt 24,36) e, noutro sítio: "Não vos cabe conhecer os dias e os tempos" (Act 1,7). Ocultou-nos isso para que vigiemos, para que cada um de nós possa pensar que essa manifestação se produzirá durante a nossa própria vida. Se o tempo da sua segunda vinda tivesse sido revelado, essa manifestação seria em vão: as nações e os tempos em que ela se produzisse não a teriam desejado. Ele disse que vem, mas não precisou qual o momento; desse modo, todas as gerações e todos os séculos têm sede dEle.É certo que Ele deu a conhecer os sinais da sua manifestação; mas não disse quando aconteceria. Na mudança constante em que vivemos, esses sinais já tiveram lugar e passaram e alguns ainda duram. Com efeito, a sua última manifestação é semelhante à primeira: os justos e os profetas desejavam-na; pensavam que se realizaria no seu tempo de vida. Também hoje, cada um dos fiéis de Cristo deseja acolhê-lo durante a sua própria vida, tanto mais que Jesus não disse claramente o dia em que iria aparecer. Desse modo, ninguém poderá imaginar que Cristo se submeta a uma lei do tempo ou a uma hora precisa, Ele que domina os números e o tempo.


Comentário ao Evangelho do dia feito por : S. Simão o Novo Teólogo A luz que me conduz pela mão

S. Simão o Novo Teólogo (cerca 949-1022), monge ortodoxo: Hino 18


A luz que me conduz pela mão

Nós conhecemos o amor que tu nos deste, sem limite, indizível, que nada pode encerrar; ele é luz, luz inacessível, luz que age em tudo...Com efeito, o que é que esta luz não faz, e o que é que ela não é? Ela é encanto e alegria, doçura e paz, misericórdia sem medida, abismo de compaixão. Quando a possuo, não a observo mais; vejo-a apenas quando ela se vai. Precipito-me para a prender, e ela foge totalmente. Não sei o que fazer e consumo-me. Aprendo a pedir e a procurar com lágrimas e em grande humildade, a não considerar como possível o que ultrapassa a natureza, nem como efeito do meu poder ou do esforço humano, aquilo que vem da compaixão de Deus e da sua misericórdia infinita...Esta luz conduz-nos pela mão, fortifica-nos, ensina-nos, mostrando-se, mas fugindo assim que temos necessidade dela. Não é quando a queremos – o que pertence aos perfeitos – mas é assim que ficamos embaraçados e completamente esgotados que ela vem em nosso socorro. Ela aparece de longe e faz-me senti-la no meu coração. Grito até me sufocar de tanto que a quero prender, mas tudo é noite, e vazias estão as minhas pobres mãos. Esqueço tudo, sento-me e choro, desesperando de a ver ainda uma outra vez. Quando chorei muito e consenti em me deter, então, vindo misteriosamente, ela toma-me a cabeça, e eu derreto-me em lágrimas sem saber quem está a iluminar o meu espírito de uma luz muito
doce. (FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 19 nov. 2006)

Sunday, November 12, 2006

Tomás de Celano (c. 1190-c. 1260), biógrafo de São Francisco e de Santa Clara: Vita Prima de São Francisco § 76:


Dar tudo porque Cristo deu tudo


Francisco, pequeno pobre e pai dos pobres, queria viver em tudo como pobre; sofria ao conhecer outro mais pobre do que ele, não por vaidade, mas devido à terna compaixão que por eles sentia. Apenas queria ter uma túnica de tecido áspero e vulgar; e acontecia-lhe muitas vezes partilhá-la com algum infeliz. Mas era um pobre muito rico porque, levado pela sua enorme caridade a socorrer os pobres como podia, ia ter com os ricos deste mundo em tempos de muito frio e pedia-lhes que lhe emprestassem um casaco ou uma peliça. E levavam-lhos com mais pressa ainda do que aquela com que ele os tinha pedido. “Aceito”, dizia ele, “com a condição de que não esteja à espera de voltar a vê-los.” E, o coração em festa, oferecia ao primeiro pobre que encontrava aquilo que acabara de receber.

Nada lhe causava tanta pena como ver insultar um pobre ou maldizer uma qualquer criatura. Certo dia, um irmão deixou-se levar por palavras ofensivas contra um pobre que pedia esmola. “Não se dará o caso”, perguntou-lhe, “de seres rico fingindo ser pobre?” Estas palavras incomodaram enormemente Francisco, o pai dos pobres, que infligiu ao delinquente um terrível sermão, ordenando-lhe em seguida que se despojasse de todas as suas vestes na presença do pobre e lhe beijasse os pés, pedindo-lhe perdão. “Quem fala mal a um pobre”, dizia, “injuria a Cristo, de quem o pobre é o nobre símbolo neste mundo, já que Cristo se fez, por nós, pobre neste mundo.” (2 Co 8, 9).


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 31 out. 2006)