Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Saturday, January 06, 2007

Respectivos aos dias 07 e 13 de Janeiro de 2007

07/01
Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense
II Sermão para a Epifania
A luz do mundo revelada às nações


“Levanta-te e resplandece, Jerusalém, chegou a tua luz!” (Is, 60, 1) Chegou realmente a tua luz; ela estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu. O Menino nascera, mas não foi conhecido enquanto o dia da luz não começou a revelá-lo. […] Erguei-vos, vós que estais sentados nas trevas! Dirigi-vos para esta luz; ela ergueu-se nas trevas, mas trevas não conseguiram abarcá-la. Aproximai-vos e sereis iluminados; na luz vereis a luz, e dir-se-á sobre vós: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5, 8). Vede que a luz eterna se acomodou aos vossos olhos, para que Aquele que habita uma luz inacessível possa ser visto pelos vossos olhos fracos e doentes. Descobri a luz numa lâmpada de argila, o sol na nuvem, Deus num homem, no pequeno vaso de argila do vosso corpo o esplendor da glória e o brilho da luz eterna! […]

Nós de damos graças, Pai da luz, por nos teres chamado das trevas à tua luz admirável. […] Sim, a verdadeira luz, mais do que isso, a vida eterna, consiste em Te conhecer, a Ti, único Deus, e ao Teu enviado Jesus Cristo. […] É certo que Te conhecemos pela fé, e temos como seguro que um dia Te conheceremos na visão. Até lá, aumenta-nos a fé. Conduz-nos de fé em fé, de claridade em claridade, sob a moção do teu Espírito, para que penetremos cada dia mais nas profundezas da luz! […] Que a fé nos conduza à visão face a face e que, à semelhança da estrela, ela nos guie até ao nosso chefe nascido em Belém. […]

Que alegria, que exultação para a fé dos magos, quando virem reinar, na Jerusalém das alturas, Aquele que adoraram quando vagia em Belém! Viram-no aqui numa habitação de pobres; lá, vê-Lo-emos no palácio dos anjos. Aqui, nos paninhos; lá, no esplendor dos santos. Aqui, no seio de sua Mãe; lá, no trono de seu Pai.


08/01
Cromácio de Aquileia (?-407), bispoSermões sobre a Epifania, 34; CCL 9A, 156-157
Do baptismo de Cristo ao nosso baptismo
Que grande mistério nesse baptismo de nosso Senhor e Salvador! O Pai faz-se ouvir do alto do céu, o Filho é visto na terra, o Espírito Santo mostra-se na forma de uma pomba. Com efeito, não há verdadeiro baptismo nem verdadeira remissão dos pecados onde não há a verdade da Trindade... O baptismo que a Igreja dá é único e verdadeiro; só é, portanto, uma vez, e ao ser-se nele mergulhado uma só vez, fica-se purificado e renovado. Purificado, porque se deixou a mancha dos pecados; renovado, porque se ressuscita para uma vida nova depois de se ter despido a velharia do pecado...Portanto os céus abriram-se no baptismo do Senhor, a fim de que, pelo banho do novo nascimento, se descubra que os reinos dos céus estão abertos aos crentes, segundo esta palavra do Senhor: «Ninguém, a menos que nasça da água e do Espírito, poderá entrar no Reino de Deus» (Jo 3,5). Entrou, pois, aquele que renasceu e que não negligenciou a preservação do seu baptismo...Uma vez que Nosso Senhor viera dar o novo baptismo para a salvação do género humano e remissão de todos os pecados, Ele próprio quis ser o primeiro baptizado, não para se despojar do pecado, pois não cometera pecado, mas para santificar as águas do baptismo com o fim de destruir os pecados de todos os crentes renascidos pelo baptismo.


09/01
S. Jerónimo (347-420), padre, tradutor da Bíblia, doutor da IgrejaComentário sobre o Evangelho de Marcos, Pl2, 137-138

«Eis um ensinamento novo, proclamado com autoridade»

Jesus dirigiu-se então à sinagoga de Cafarnaúm e pôs-se a ensinar. As pessoas ficaram espantadas com o seu ensinamento, pois Jesus falava «não como os escribas, mas como um homem que tem autoridade.» Ele não dizia, por exemplo, «Palavra do Semhor!» ou « Assim se exprime Aquele que me enviou». Não. Jesus falava em seu próprio nome; era Ele que tinha falado outrora pela voz dos profetas. Já é bom poder dizer, apoiando-se num texto, «Está escrito...»; ainda melhor é proclamar, em nome do próprio Senhor, «Palavra do Senhor!»; mas é completamente diferente poder afirmar, como Jesus em pessoa, «Em verdade, eu vo-lo declaro!...». Como ousas dizer «Em verdade, eu vo-lo declaro!» se não és aquele que outrora deu a Lei e falou aos profetas?...
«As pessoas ficaram espantadas com o seu ensinamento.» O que ensinava então Ele de tão novo? O que dizia de tão novo? Não fazia senão repetir o que havia declarado pela voz dos profetas. Mas as pessoas estavam admiradas, porque Ele não ensinava pelo método dos escribas. Ele ensinava como tendo Ele próprio autoridade; não como rabi, mas como Senhor. Não falava referindo-se a um maior do que Ele. Não. A palavra que proferia era a sua; e, se ele mantinha, no fim de contas, essa linguagem de autoridade, era porque afirmava presente Aquele de quem falara através dos profetas: «Eu que vos falava, aqui estou!» (Is 52,6)... É por isso que Jesus ameaça o demónio que se exprime pelo possesso, na sinagoga: «Silêncio! Disse Ele, sai desse homem.» Quer dizer: «Sai da minha casa; que fazes tu naquilo que é a minha morada? Eu quero lá entrar. Cala-te! Sai desse homem! Deixa essa morada que me foi preparada... Deus quere–a. Deixa o homem; ele pertence-me. Não quero que ele seja teu. Eu habito no homem; é o meu Corpo. Vai-te!»


10/01
Guigues, o Cartuxo (1083-1136), prior da Grande Cartuxa
"Fogos do Deserto"

“Muito antes de amanhecer, Jesus levantou-Se, foi para um lugar solitário e pôs-se em oração"

O próprio Jesus, Deus e Senhor, cuja força não tinha necessidade de apoio no retiro nem estava entravada pela sociedade dos homens, teve contudo o cuidado de nos deixar o seu exemplo. Antes do seu ministério de pregação e de milagres, submeteu-Se, na solidão, à prova da tentação e do jejum (Mt 4, 1ss.). Narra a Escritura que, deixando a multidão dos discípulos, subiu sozinho à montanha, para rezar (Mc 6, 46). Depois, na hora em que a sua Paixão estava iminente, abandona os discípulos e vai rezar sozinho (Mt 26, 36): exemplo máximo das vantagens da solidão para a oração, pois não deseja rezar ao lado dos companheiros, mesmo que sejam os apóstolos.

Não nos convém deixar passar em silêncio semelhante mistério, que a todos diz respeito. Ele, o Senhor, o Salvador do género humano, oferece-nos na Sua Pessoa um exemplo vivo. Sozinho no deserto, entrega-Se à oração e aos exercícios da vida interior – ao jejum, à vigília e aos outros frutos de penitência –, vencendo assim as tentações do adversário com as armas do Espírito.

Ó Jesus, aceito que, exteriormente, ninguém esteja comigo; mas que seja para que, no interior, esteja ainda mais contigo. Infeliz do homem só, se Tu não estás só com ele! E quantos homens se encontram entre a multidão, mas na realidade estão sós, porque não estão contigo. Gostaria de, contigo, nunca estar só. Porque, nesses momentos em que ninguém está comigo, nem por isso estou só; sou, eu próprio, uma multidão.


11/01
São Boaventura (1221-1274), franciscano, Doutor da Igreja
Vida de S. Francisco, Legenda Major 1, 5-6

“Jesus estendeu a mão e tocou-lhe”

Certo dia em que passeava a cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se inesperadamente com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso mas, lembrando-se da resolução de vida perfeita que tomara, e de que devia, antes de mais, vencer-se a si mesmo, se queria ser “soldado de Cristo” (2Tm 2, 3), saltou do cavalo para abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um beijo com o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por muito que olhasse para um lado e para o outro, não viu o leproso. Cheio de admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu não se deter neste acto de generosidade. […]
Abandonou-se então ao espírito de pobreza, ao gosto da humildade e aos impulsos de uma piedade profunda. Se até então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de horror, passou a fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si mesmo, sempre humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado que, nas palavras do profeta, “foi desprezado como um leproso” (Is 53, 3). Ia visitá-los com frequência, dava-lhes esmolas e, emocionado de compaixão, beijava-lhes afectuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar o que tinha, quereria dar-se a si mesmo – de maneira que, quando não levava dinheiro consigo, dava-lhes as suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para as distribuir.
Foi por esta altura que realizou a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os mendigos que fervilhavam no chão da basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da pobreza, escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes pelos farrapos com que o homem se cobria, e passou todo o dia na companhia dos pobres, a alma cheia de uma alegria que nunca, até então, conhecera.


12/01
S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bipo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre S. Mateus, 29, 1-3

"Quem pode perdoar os pecado senão Deus?"

"Trouxeram-lhe um paralítico". Os evangelistas contam que, depois de terem furado o tecto, desceram o doente e depuseram-no diante de Cristo, sem nada pedir, deixando Jesus fazer o que quisesse. No início do seu ministério, em toda a Judeia, era ele quem dava os primeiroas passos e não exigia uma fé tão grande; aqui são os outros que vêm a ele e foi-lhes necessária uma fé corajosa e viva: "Jesus, vendo a sua fé", diz o Evangelho, quer dizer, a fé dos que tinham transportado o paralítico... O doente também teria uma grande fé porque não se teria deixado transportar se não tivesse confiança em Jesus.
Perante tanta fé, Jesus mostra o seu poder e, com uma autoridade divina, perdoa os pecados ao doente, dando assim prova da sua igualdade com o Pai. Tinha já mostrado essa igualdade quando curou o leproso dizendo: "Quero, sê curado", quando acalmou o mar desencadeado e quando expulsou os demónios que nele reconheceram o seu soberano e o seu juiz... Aqui mostra-a primeiro sem espavento: não se tinha apressado a curar exteriormente os que lhe apresentavam. Começou por um milagre invisível; primeiro curou a alma do homem, perdoando-lhe os pecados. É certo que esta cura era infinitamente mais vantajosa para aquele homem, mas isso trazia pouca glória a Cristo. Então alguns, levados pela malvadez, quiseram prejudicá-lo; mas foram eles que, contra vontade, tornaram o milagre mais deslumbrante.


13/01
S. Pedro Crisólogo (cerca de 406 - 450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 30

"Come com os publicanos e com os pecadores!"

Deus é acusado de se inclinar sobre o homem, de se sentar perto do pecador, de ter fome de conversar com ele e sede do seu regresso, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência. Mas Cristo, meus irmãos, veio a este banquete; a Vida veio ao encontro destes convivas para que, condenados à morte, vivam com a Vida; a Ressurreição reclinou-se para que os que jaziam se ergam dos seus túmulos; a Bondade humilhou-se para elevar os pecadores até ao perdão; Deus veio até ao homem para que o homem chegue até Deus; o juiz veio à mesa dos culpados para poupar a humanidade da sentença de condenação; o médico veio a casa dos doentes para os restabelecer comendo com eles; o Bom Pastor inclinou o ombro para trazer a ovelha perdida ao redil da salvação.
"Ele come com os publicanos e com os pecadores!" Mas quem é pecador senão o que recusa ver-se como tal? Não é afundar-se no seu pecado e mesmo identificar-se com ele, o facto de deixar de se reconhecer pecador? E quem é injusto senão o que se considera justo?... Vamos, fariseu, confessa o teu pecado e poderás vir à mesa de Cristo; Cristo far-se-á pão para ti, esse pão que será partido para perdão dos teus pecados; Cristo tornar-se-á para ti o cálice, esse cálice que será derramado para remissão das tuas faltas. Vamos, fariseu, partilha a refeição dos pecadores e Cristo partilhará a tua refeição; reconhece-te pecador e Cristo comerá contigo; entra com os pecadores no festim do teu Senhor e poderás deixar de ser pecador; entra com o perdão de Cristo na casa da misericórdia.


Fonte: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em 06 jan. 2007.