Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Friday, June 23, 2006

S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja: Homilias sobre o Cântico dos Cânticos.

“Vinde com alegria tirar água das fontes vivas da salvação” (Is 12,3)
Onde pode a nossa fragilidade encontrar repouso e segurança, senão nas feridas do Salvador? Perfuraram as suas mãos, os seus pés, e com um golpe de lança o seu lado. Por estes buracos abertos posso provar o mel desta rocha (Sl 80, 17) e o óleo que escorre da pedra dura, quer dizer “provar e ver como o Senhor é doce” (Sl 33,9). Ele formulava desígnios de paz (Jer 29,11) e eu não o sabia. “Quem, com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Quem foi o seu conselheiro?” (Rom 11,34). Mas o prego que o perfura tornou-se para mim uma chave que me abre o mistério dos seus desígnios.
Como não ver através das suas chagas? Os pregos e as feridas gritam que, verdadeiramente, na pessoa de Cristo, Deus se reconciliou com o mundo. O ferro trespassou o seu ser e tocou o seu coração, a fim de que ele não ignore mais como se compadecer das minhas fraquezas. O segredo do seu coração aparece a nu nas feridas do seu corpo; vemos a descoberto o grande mistério da sua bondade, esta misericordiosa ternura do nosso Deus, “Sol nascente que nos visitou do alto” (Lc 1,78). E como não seria esta ternura manifesta nas suas feridas? Como mostrar mais claramente que pelas tuas feridas que tu, Senhor, és doce e compassivo e de uma grande misericórdia, porque não há maior amor do que dar a sua vida (Jo 15,13) pelos condenados à morte?
Todo o meu mérito é pois a piedade do Senhor, e não me faltará mérito tanto quanto a piedade não lhe faltará a ele. Se as misericórdias de Deus se multiplicam, os meus méritos serão numerosos. Mas que acontecerá se tenho a reprovar-me uma quantidade de faltas? “Onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rom 5,20). E se “a bondade do Senhor se estende por todo o sempre”, pelo meu lado “cantarei eternamente as misericórdias do Senhor” (Sl 102,17;88,2). É esta a minha justiça? Senhor, recordar-me-ei apenas da tua justiça, porque é ela a minha justiça pois que para mim se tornou justiça de Deus (Rom 1,17).


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 23 jun. 2006.)

Friday, June 16, 2006

João Paulo II: Discurso aos jovens holandeses, 14 de Maio de 1985.

As exigências de Cristo e a alegria do coração
Queridos jovens, fizestes-me saber que muitas vezes considerais a Igreja como uma instituição que apenas promulga regulamentos e leis... E concluís que há um profundo hiato entre a alegria que emana da palavra de Cristo e o sentimento de opressão que suscita em vós a rigidez da Igreja... Mas o Evangelho apresenta-nos um Cristo muito exigente que convida a uma conversão radical do coração, ao abandono dos bens da terra, ao perdão das ofensas, ao amor para com o inimigo, à paciente aceitação das perseguições e mesmo ao sacrifício da própria vida por amor ao próximo. No que diz respeito ao domínio particular da sexualidade, conhece-se a firme posição que Jesus tomou em defesa da indissolubilidade do matrimónio e à condenação que pronunciou até a propósito do simples adultério cometido no coração. Poderá alguém não ficar impressionado diante do preceito de "arrancar um olho" ou de "cortar uma mão" se esses órgãos forem ocasião de "escândalo"?...A permissividade moral não torna os homens felizes. Tal como a sociedade de consumo não traz alegria ao coração. O ser humano só se realiza na medida em que sabe aceitar as exigências que provêm da sua dignidade de ser criado "à imagem e semelhança de Deus" (Gn 1,27). Por isso, se hoje a Igreja diz coisas que não agradam, é porque se sente obrigada a fazê-lo. Fá-lo por dever de lealdade...
Mas então não é verdade que a mensagem evangélica é uma mensagem de alegria? Pelo contrário, é absolutamente verdade! E como é isso possível? A resposta encontra-se numa palavra, numa só palavra, numa palavra curta mas com um conteúdo vasto como o mar. Essa palavra é: amor. O rigor do preceito e a alegria do coração podem perfeitamente conciliar-se. Quem ama não receia o sacrifício. Antes procura no sacrifício a prova mais convincente da autenticidade do seu amor.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 16 jun. 2006.)

Thursday, June 08, 2006

S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja: Tratado do amor de Deus.

“Tu amarás o Senhor teu Deus com todo o teu
coração”
O primeiro e o maior mandamento é este: “amarás o Senhor teu Deus”. Mas a nossa natureza é fraca; e o nosso primeiro degrau no amor é o de nos amarmos a nós próprios, antes de qualquer outra coisa, por causa de nós próprios... Para nos impedir de resvalar muito por este declive, Deus deu-nos o preceito de amar o nosso próximo como a nós a mesmos... Ora, nós constatamos que isso não é possível sem Deus, sem reconhecer que tudo vem dele e que sem ele nada podemos. Neste segundo degrau, o homem volta-se para Deus, mas ainda o ama apenas por causa de si mesmo e não por ele...
No entanto, é preciso ter um coração de mármore ou de bronze, para não se ser tocado pelo auxílio que Deus nos dá quando nos voltamos para ele nas provações. Nas provações, é impossível não saborear como ele é bom (Sl 33,9). E em breve começamos a amá-lo mais por causa da doçura que nele encontramos do que por causa do nosso interesse... Quando estamos nessa situação, não é difícil amar o nosso próximo como a nós mesmos... Amamos os outros como somos amados, como Jesus Cristo nos amou. Eis o amor daquele que diz com o salmista: “Louvai o Senhor porque ele é bom” (Sl 117,1). Louvar o Senhor não porque ele é bom para nós, mas simplesmente porque ele é bom, amar Deus por Deus e não por nós próprios, é o terceiro degrau do amor.
Felizes os que puderam subir até ao quarto degrau do amor: só se amar a si mesmo com o amor de Deus... Quando é que a minha alma, voltada para o amor de Deus, esquecida de si própria, não se julgando mais do que um vaso quebrado, quando é que ela se lançará para Deus para se perder nele e não ser mais do que um mesmo espírito com ele? (1Cor 6,17). Quando poderá ela descrever-se: “A minha carne e o meu coração já desfalecem, mas o Senhor é para sempre a rocha do meu coração e a minha herança” (Sl 72, 26)? Santos e felizes, os que puderam experimentar qualquer coisa de semelhante durante esta vida mortal, mesmo que raramente, mesmo que uma única vez. Não é uma felicidade humana, é viver já no céu.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 08 jun. 2006.).

Wednesday, June 07, 2006

São Justino (cerca 100-160), filósofo, mártir: Tratado da ressurreição, 2.4.7-9

“Creio na ressurreição da carne" (Credo)
Os que estão no erro dizem que não há ressurreição da carne, que é impossível, depois de ter sido destruída e reduzida a pó, retomar a sua integridade. Para eles, a salvação da carne será, não somente impossível, mas mesmo nociva: eles censuram a carne, denunciam os seus defeitos, tornam-na responsável pelos pecados; dizem pois que, se esta carne deve ressuscitar, os seus defeitos também ressuscitarão... O Salvador disse: “Os que participam da ressurreição dos mortos não se casam...são semelhantes aos anjos”. Ora os anjos, dizem, não são de carne, não comem nem se casam, nem são dados em casamento. Assim, dizem eles, não haverá ressurreição da carne...
Como são cegos, os olhos da sua inteligência! Pois não viram “os cegos ver, os coxos andar” (Mt 11,5), graças à palavra do Salvador..., para nos fazer acreditar que, aquando da ressurreição, a carne ressuscitará completamente? Se nesta terra ele curou as enfermidades da carne e restituiu ao corpo a sua integridade, quanto mais não fará no momento da ressurreição, a fim de que a carne ressuscite sem defeito, integralmente... Parece-me que essas pessoas ignoram a acção divina no seu todo, na origem da criação, na construção do homem; ignoram porque as coisas terrestres foram feitas.
O Verbo disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26)... É evidente que o homem, modelado à imagem de Deus, era de carne. Então, que absurdo pretendê-la desprezível, sem nenhum mérito, a carne modelada por Deus segundo a sua própria imagem! Que a carne seja preciosa aos olhos de Deus é evidente, porque é obra sua. E porque nela se encontra o princípio do seu projecto para o resto da criação, é o que há de mais precioso aos olhos do criador.


(FONTE: Disponível em: http://evangelhoquotidiano.org/. Acesso em: 07 jun. 2006.).

Tuesday, June 06, 2006

Santa Catarina de Siena (1347-1380), terceira dominicana, doutora da Igreja, co-patrona da Europa: Diálogos, cap. 13.


«De quem é esta imagem?»: fazendo-Se homem, Deus restaura em
nós a imagem da Trindade
Amor eterno..., peço-to em graça, tem misericórdia do teu povo, em nome da caridade eterna que te levou a criar o homem à tua imagem e semelhança (Gn1,26)... Só o fizeste, ó Trindade eterna, porque querias levar o homem a participar de todo Tu. Foi por isso que lhe deste a memória, para que se lembre das tuas mercês, e para que participe também no teu poder, ó Pai eterno. Foi por isso que lhe deste a inteligência, para que ele possa compreender a tua bondade e participe também da sabedoria do teu Filho único. Foi por isso que lhe deste a vontade, para que possa amar o que vê e o que conhece da tua verdade, e assim participe no amor do teu Espírito Santo. Quem te levou a dar uma tão grande dignidade ao homem? O amor inesgotável com que olhas em ti mesmo a tua criatura.
[Mas] por causa do pecado, ela perdeu a sua dignidade... Então Tu, levado por esse mesmo fogo com que nos criaste..., deste-nos o Verbo, o teu Filho único... Ele cumpriu a tua vontade, Pai eterno, quando o revestiste da nossa humanidade, à imagem e semelhança da nossa natureza. Ó abismo de caridade! Qual é o coração que pode defender-se de não ceder ao Teu amor, vendo o Altíssimo juntar-se à baixeza da nossa humanidade? Nós somos a Tua imagem, e tu és a nossa, por essa união que consumaste no homem ocultando a tua divindade no barro de Adão (Gn 2,7)... O que te levou a fazê-lo? O amor! Tu, Deus, fizeste-te homem, e o homem tornou-se Deus. Por esse amor indizível, rogo-te, tem misericórdia das tuas criaturas.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 06 jan. 2006.).