Comentário ao Evangelho do dia feito por:

Sunday, April 30, 2006

Beato Guerric d'Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense: I Sermão para a ressurreição do Senhor, 4.


“Por que estais perturbados?”
Quando Jesus apareceu aos apóstolos, “estando fechadas as portas, e veio pôr-Se ao meio deles, eles ficaram dominados pelo espanto e cheios de medo, julgando ver um espírito” (Jn 20, 19; Lc 24, 37). Mas, quando soprou sobre eles dizendo “Recebei o Espírito Santo” (Jn 20, 22), e mais tarde, quando lhes enviou do céu esse mesmo Espírito como novo dom, esse dom foi uma prova indubitável da sua ressurreição e da sua nova vida. Com efeito, é o Espírito que dá testemunho no coração dos santos, e em seguida pela sua boca, de que Cristo é a verdade, a verdadeira ressurreição e a vida. É por isso que os apóstolos, que inicialmente tinham duvidado, mesmo à vista do Seu corpo vivo, “davam testemunho da ressurreição com grande poder” (Act 4, 33), depois de terem experimentado esse Espírito que dá a vida. É-nos muito mais proveitoso acolher Jesus no coração do que vê-Lo com os olhos e ouvi-Lo falar. A acção do Espírito Santo sobre os nossos sentidos interiores é muito mais poderosa do que a impressão dos objectos materiais sobre os nossos sentidos exteriores. […]
Muito bem, irmãos, qual é o testemunho que a alegria do vosso coração presta ao vosso amor por Cristo? […] Quando hoje, na Igreja, tantos mensageiros proclamam a ressurreição, o vosso coração exulta e exclama: “Jesus, o meu Deus, está vivo; eles anunciaram-mo! Perante esta boa nova, o meu espírito desencorajado, tíbio e entorpecido pela dor, recuperou a vida. A voz que proclama esta boa nova desperta da morte os mais culpados…” Irmão, eis o sinal que te permitirá reconhecer que o teu espírito recuperou a vida em Cristo: se ele disser: “Se Jesus está vivo, tanto me basta!” Oh, palavra de fé e bem, digna dos amigos de Jesus! “Se Jesus está vivo, tanto me basta!”
(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 30 abr. 2006.).

Saturday, April 29, 2006

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), 1891-1942 , carmelita, mártir, co-padroeira da Europa.


Poesia: paráfrase do Salmo 45

«... logo o barco chegou à terra para onde se dirigiam»

Tu, Senhor, és a nossa força.
Louvar-te-emos a Ti, Deus forte,
que és o nosso constante socorro.
Ainda que a terra seja abalada
e o mar se torne encapelado
permanecemos firmes junto de Ti,
colocando em Ti a nossa confiança.





Ergam-se e desfraldem-se as ondas,
ou vacilem as montanhas,
a alegria iluminar-nos-à,
a cidade de Deus dá-te graças.
Nela tens a Tua morada,
preservas a sua santa paz.
E um poderoso rio protege
a sublime morada de Deus.





Os povos desabam na loucura
Abate-se o poder dos Estados.
Ei-lo elevando a voz,
e a terra atormentada aos gritos.
Mas o Senhor está connosco,
o Senhor, o Deus Sabaoth.
Tu és para nós luz e salvação,
jamais teremos medo.



Vinde todos, vinde contemplar
os prodígios do Seu poder:
desfalecem todas as guerras,
a corda do arco se detém.
Lançai no braseiro de fogo
escudos e armas de guerra.
O Senhor, o Deus Sabaoth
salva-nos de toda a angústia.





Quando as tempestades se desencadeiam

Friday, April 28, 2006

Santo Efrém (c. 306-373), diácono da Síria, doutor da Igreja


"Com os pedaços que sobraram, encheram doze cestos"
Num piscar de olhos, o Senhor multiplicou um pedaço de pão. Aquilo que os homens fazem em dez meses de trabalho, fizeram-no os Seus dedos num instante. [.] Contudo, não foi com o seu poder que comparou este milagre, mas com a fome dos que tinha diante de Si. Se o milagre tivesse sido comparado com o seu poder, seria impossível de avaliar; comparado com a fome daqueles milhares de pessoas, o milagre ultrapassou os doze cestos. O poder dos artesãos é inferior aos desejos dos respectivos clientes; eles não conseguem fazer tudo aquilo que se lhes pede; pelo contrário, as realizações de Deus ultrapassam todo o desejo. [.]

Saciados no deserto, como outrora o tinham sido os Israelitas pela oração de Moisés, eles exclamaram: "Este é o profeta do qual está dito que viria ao mundo." Aludiam às palavras de Moisés: "O Senhor suscitará para vós um profeta", que não será um profeta qualquer, mas "um profeta como eu" (Dt 18,15), que vos saciará de pão no deserto. Tal como eu, caminhou sobre as águas, surgiu numa nuvem luminosa (Mt 17,5), libertou o seu povo. Entregou Maria a João, como Moisés entregara o seu rebanho a Josué. [.] Mas o pão de Moisés não era perfeito; apenas foi dado aos Israelitas. Querendo significar que o seu dom é superior ao de Moisés e o chamamento às nações ainda mais perfeito, Nosso Senhor disse: "Se alguém comer o Meu pão viverá eternamente", porque "o pão vivo que desceu do céu" é dado a todo o mundo (Jn 6,51).


(ONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 28 abr. 2006.).

Thursday, April 27, 2006

Jean Tauler (1300-1361), dominicano: Sermão para a Festa de Natal.


“Aquele que Deus enviou diz as palavras de Deus”
Tal como Maria, todo o servo de Deus deve, frequentemente, encontrar o silêncio e a calma em si mesmo, recolher-se em seu íntimo, esconder-se espiritualmente para se preservar e fugir aos sentidos, e conceder a si mesmo um lugar de silêncio e de repouso interior. É deste repouso interior que se canta: «Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite ia a meio do seu curso, então, a tua palavra omnipotente desceu do céu e do trono real e, como um implacável guerreiro, lançou-se para o meio da terra» (Sab. 18, 14-15): foi quando o Verbo eterno saiu do coração de seu Pai. É no meio do silêncio, precisamente no momento em que todas as coisas estão mergulhadas no mais profundo silêncio, quando o verdadeiro silêncio reina, que se escuta então, verdadeiramente, este Verbo. Pois se desejas que Deus fale, precisas silenciar; para que ele entre, todas as coisas devem sair.
Quando Nosso Senhor Jesus entrou no Egipto, todos os ídolos do país caíram em ruínas. Os teus próprios ídolos, é tudo aquilo que impede que se opere em ti este nascimento eterno, de maneira verdadeira e imediata, por melhor e mais santo que isto possa parecer. Nosso Senhor disse: «Eu vim trazer a espada» (Mt. 10,34) para cortar tudo o que se agarra ao homem. Pois aquilo que te é mais chegado, eis o teu inimigo: esta multiplicidade de imagens que em ti escondem o Verbo.
(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 27 abr. 2006.).

Wednesday, April 26, 2006

Liturgia Romana: Hino de Santo Ambrósio para as laudes, "Splendor paternae gloriae".


"A luz veio ao mundo"


Esplendor da glória do Pai, Luz nascida da Luz, Fonte viva de claridade, Dia que
ilumina do dia.



Verdadeiro sol resplandecente, desce sobre nós, Brilha numa luz sem fim, Faz
luzir nos nossos corações Os raios do Espírito divino.



Que nos seja dado cantar O Pai da eterna glória,O Pai todo-poderosoQue apaga as
nossas faltas.



Que Ele dê força ao nosso agir, Que Ele destrua o inimigoQue nos dê na provação
A graça para actuar.



Dirija a nossa inteligência, Que Ele guarde o nosso corpo, Que a nossa fé seja
ardente, Simples e sem retorno.



Seja Cristo nosso alimento, A fé a nossa bebida, Que a sóbria embriaguez do
Espírito Seja a alegria deste dia.



Que o dia decorra alegre Na pureza da manhã, Que ao meio dia brilhe a fé Que
vença as sombras da noite.


Como o sol que brilha aos nossos olhos, Venham até nós com a aurora O Filho nos
braços do Pai E o Pai nos braços do Filho.



(FONTE: Dsiponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 26 abr. 2006.).

Tuesday, April 25, 2006

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo: PPS vol. 2, n°16.


"Ide por todo o mundo. Proclamai a Boa Nova a toda a criação"



Assistimos em São Marcos a uma transformação verdadeiramente maravilhosa: tendo acompanhado Barnabé e Paulo durante a primeira viagem apostólica de ambos, diante do perigo, João Marcos abandona-os para regressar a Jerusalém (Act 13, 13). [.] Depois disto, porém, foi colaborador de São Pedro (1P 5,13), tendo-se mostrado, não apenas um autêntico cristão, mas um servidor fiel e resoluto do Evangelho, sendo mesmo, segundo a tradição, o fundador da Igreja mais rigorosa, a Igreja de Alexandria. O instrumento desta mudança parece ter sido a influência de Pedro, que transformou em apóstolo o discípulo tímido e cobarde.


Através desta história, aprendemos uma lição: pela graça de Deus, o mais fraco pode receber a força. Portanto, não devemos confiar em nós mesmos; nunca devemos desprezar um irmão que dá provas de fraqueza, nem jamais desesperar quanto à sua fidelidade mas, pelo contrário, devemos ajudá-lo a seguir em frente. [.] A história de Moisés apresenta-nos o exemplo de um temperamento orgulhoso e violento, que o Espírito dominou, a ponto de fazer dele um homem de excepcional humildade (Nm 12, 3). A história de Marcos apresenta-nos um caso de mudança ainda mais rara: a passagem da timidez a uma segurança definitiva. Com efeito, se é difícil dominar paixões violentas, ainda é mais difícil superar a tendência para o temor e o desalento, essas pequenas cadeias que paralisam alguns. [.] Admiremos pois, em São Marcos, uma tão espantosa transformação: "pela fé, o fraco recebeu o dom da força" (Hb 11,34). Deste modo, Marcos dá testemunho dos dons mais maravilhosos do Espírito Santo, segundo a repartição dos últimos tempos: "Levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos enfraquecidos" (Hb 12,12).

(FONTE: Disponível em: <http://www.catolicanet.com.br/>. Acesso em: 25 abr. 2006.).

Sunday, April 23, 2006

Paulo VI, Papa entre 1963 e 1978: Exortação apostólica Gaudete in Domino, sobre a alegria cristã.


"Os discípulos encheram-se de alegria ao ver o Senhor."
A alegria pascal não é a simples alegria de uma transfiguração possível; é a alegria da nova presença de Cristo ressuscitado, que dispensa o Espírito Santo aos seus, a fim de permanecer com eles. O Espírito Paráclito é, assim, dado à Igreja como princípio inesgotável da sua alegria de Esposa de Cristo glorificado. O Espírito que procede do Pai e do Filho, que é o amor vivo e mútuo do Pai e do Filho, passa a ser comunicado ao povo da Nova Aliança e a todas as almas disponíveis para a sua acção íntima. Ele faz de nós sua morada: 'Doce Hóspede da alma' (Veni Creator). Com Ele, o coração do homem é habitado pelo Pai e pelo Filho. Nessa habitação, o Espírito Santo suscita uma prece de amor filial, que brota do mais fundo da alma e se exprime no louvor, nas acções de graças, na reparação e na súplica. Somos então capazes de saborear a alegria propriamente espiritual, que é fruto do Espírito Santo (Ga 5, 22).
Semelhante alegria caracteriza, desde logo, todas as virtudes cristãs. As humildes alegrias humanas, que estão na nossa vida como sementes de uma realidade mais alta, são transfiguradas. Aqui em baixo, a alegria espiritual será sempre acompanhada, numa ou noutra medida, da dolorosa prova da mulher que dá à luz, e de um certo abandono aparente, semelhante ao abandono do órfão: choros e lamentações, enquanto o mundo ostenta uma satisfação perversa. Mas a tristeza dos discípulos que é segundo Deus, e não segundo o mundo, em breve será transformada numa alegria espiritual que ninguém poderá tirar-lhes (Jo 16, 20-22).


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 23 abr. 2006.).

Saturday, April 22, 2006

João Paulo II Carta apostólica «Novo millennio ineunte», § 58.


"Ide pelo mundo inteiro. Proclamai a Boa Nova a toda a criatura"
DUC IN ALTUM!
Sigamos em frente, com esperança! Diante da Igreja abre-se um novo milénio como um vasto oceano onde aventurar-se com a ajuda de Cristo. O Filho de Deus, que encarnou há dois mil anos por amor do homem, continua também hoje em acção: devemos possuir um olhar perspicaz para a contemplar, e sobretudo um coração grande para nos tornarmos instrumentos dela. Porventura não foi para tomar renovado contacto com esta fonte viva da nossa esperança que celebrámos o ano jubilar? Agora Cristo, por nós contemplado e amado, convida uma vez mais a pormo-nos a caminho: «Ide, pois, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19). O mandato missionário introduz-nos no terceiro milénio, convidando-nos a ter o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora; podemos contar com a força do mesmo Espírito que foi derramado no Pentecostes e nos impele hoje a partir de novo sustentados pela esperança que «não nos deixa confundidos» (Rom 5,5).
Ao princípio deste novo século, o nosso passo tem de fazer-se mais lesto para percorrer as estradas do mundo. As sendas, por onde caminha cada um de nós e cada uma das nossas Igrejas, são muitas, mas não há distância entre aqueles que estão intimamente ligados pela única comunhão, a comunhão que cada dia é alimentada à mesa do Pão eucarístico e da Palavra de vida. Cada domingo, Cristo ressuscitado marca encontro connosco no Cenáculo, onde, na tarde do «primeiro dia depois do sábado» (Jo 20,19), apareceu aos seus «soprando» sobre eles o dom vivificante do Espírito e iniciando-os na grande aventura da evangelização.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 22 abr. 2006.).

Friday, April 21, 2006

Cardeal John Henry Newman (1801-1890), sacerdote, fundador de comunidade religiosa, teólogo: PPS vol. 8, n°2.


“É o Senhor!”
Só lentamente nos apercebemos desta grande e sublime verdade: Cristo continua, de alguma maneira, a caminhar no meio de nós, e faz-nos sinal para o seguirmos com a sua própria mão, o seu olhar, a sua voz. Nós não compreendemos que este chamamento de Cristo tem lugar todos os dias, hoje como outrora. Temos tendência para nos convencermos de que ele se verificava no tempo dos apóstolos, mas não cremos que, hoje, se nos aplique, não procuramos detectá-lo a nosso respeito. Deixámos de ter olhos para ver o Mestre – somos muito diferentes do apóstolo amado, que reconheceu Cristo mesmo quando os outros discípulos O não reconheceram. E, contudo, era Ele que estava na margem; foi depois da ressurreição, quando lhes ordenou que lançassem a rede ao mar; foi então que o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!”
O que pretendo dizer é que, de vez em quando, os homens que vivem uma vida de crentes se apercebem de verdades que ainda não tinham visto, ou para as quais nunca lhes tinham chamado a atenção. E, de repente, elas apresentam-se diante deles como um apelo irresistível. Ora, trata-se de verdades que nos obrigam, que assumem o valor de preceitos, e que exigem obediência. É desta maneira, ou ainda de outras, que Cristo hoje nos chama. Não há nada de miraculoso ou de extraordinário nesta forma de actuar. Ele age por intermédio das nossas faculdades naturais e por meio das próprias circunstâncias da vida.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 21 abr. 2006.).

Wednesday, April 19, 2006

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja: Sermão 235.


«Fica connosco Senhor»
Irmãos, quando é que o Senhor se deu a conhecer? Na fracção do pão. Estamos assim certos disto mesmo: quando rompemos o pão, reconhecemos o Senhor. Se ele só quis ser reconhecido nessa altura, foi por causa de nós, nós que não o veríamos em sua carne, mas que no entanto comeríamos a sua carne. Então, tu que acreditas nele, quem quer que sejas, tu, que não é em vão que te chamas cristão, que não entras na igreja por acaso, que escutas a palavra de Deus com temor e esperança, para ti, a fracção do pão será uma consolação. A ausência do Senhor não é uma verdadeira ausência. Tem fé, e ele está contigo, ainda que não o vejas.
Quando o Senhor começou a falar com eles, os discípulos ainda não tinham fé. Eles ainda não acreditavam na sua ressurreição; nem esperavam sequer que ele pudesse ressuscitar. Tinham perdido a fé; tinham perdido a esperança. Eram mortos que caminhavam com um vivo; caminhavam, mortos, com a vida. A vida caminhava com eles, mas em seus corações, a vida ainda não tinha sido renovada.
E tu, desejas a vida? Imita os discípulos, e reconhecerás o Senhor. Eles ofereceram a hospitalidade; a Senhor parecia decidido a continuar o seu caminho, mas eles retiveram-no… Tu também, retém o estrangeiro se queres reconhecer o teu Salvador… Aprende onde procurar o Senhor, onde possuí-lo, onde reconhecê-lo: partilhando o pão com ele.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 19 abr. 2006.).

Tuesday, April 18, 2006

S. Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja: Homila 25 sobre o Evangelho.


«Porque choras?»
Maria, em lágrimas, inclina-se e olha para dentro do túmulo. Ela já tinha todavia constatado que estava vazio, e tinha anunciado o desaparecimento do Senhor. Porque se inclina então ainda? Porque quer ver de novo? Porque o amor não se contenta com um único olhar; o amor é uma conquista sempre mais ardente. Ela já O procurou, mas em vão; obstina-se e acaba por descobrir...
No Cântico dos Cânticos, a Igreja dizia do mesmo Esposo: «No meu leito, de noite, procurei aquele que o meu coração ama. Procurei-o, mas não o encontrei. Vou levantar-me e percorrer a cidade; pelas ruas e pelas praças, vistes aquele que o meu coração ama?» (Ct 3, 1-2). Duas vezes ela exprime a sua decepção: «Procurei-o, mas não o encontrei!» Mas o sucesso vem, por fim, coroar o esforço: «Os guardas encontraram-me, aqueles que fazem ronda pela cidade. Vistes aquele que o meu coração ama? Mal os ultrapassei, encontrei aquele que o meu coração ama.» (Ct 3,3-4)
E nós, quando é que, nos nossos leitos, procuraremos o Amado? Durante os breves repousos desta vida, quando suspiramos na ausência do nosso Redemptor. Nós procuramo-Lo na noite, pois apesar do nosso espírito já estar desperto para Ele, os nossos olhos só vêem a Sua sombra. Mas, como não encontramos nela o Amado, levantemo-nos; percorramos a cidade, ou seja a assembleia dos eleitos. Procuremos de todo o coração. Procuremos nas ruas e nas praças, ou seja nas passagens escarpadas da vida ou nos caminhos espaçosos; abramos os olhos, procuremos aí os passos do nosso Bem-Amado...
Esse desejo fez dizer a David: «A minha alma tem sede do Deus de vida. Quando irei ver a face de Deus? Sem descanso, procurai a Sua face» (Sl 42,3).


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 18 abr. 2006.).

Tuesday, April 11, 2006

S. Máximo de Turim (? - carca de 420), bispo: Sermão 76.


"Antes de o galo cantar, ter-me-ás negado três vezes"
Voltando-se, o Senhor fixa o olhar em Pedro. E Pedro, tomando consciência do que acaba de dizer, arrepende-se e chora...: funde em lágrimas e permanece mudo... (Lc 22,61-61) Sim, as lágrimas são orações mudas; merecem o perdão sem o reclamar; obtêm misericórdia sem defender a sua causa... As palavras podem não conseguir exprimir uma oração, as lágrimas nunca; as lágrimas exprimem sempre o que sentinmos, ao passo que as palavras podem ser impotentes. Eis porque Pedro já não recorre às palavras: as palavras tinham-no levado as trair, a pecar, a renegar a sua fé. Prefere confessar o seu pecado com lágrimas, ele que com palavras tinha renegado...Imitemo-lo, contudo, no que diz quando o Senhor lhe pergunta três vezes: "Simão, amas-me?" (Jo 21,17) Por três vezes responde: "Senhor, tu sabes que te amo". O Senhor diz-lhe então: "Apascenta as minhas ovelhas", e isso por três vezes. Esta palavra compensa o seu desvario precedente; aquele que tinha três vezes renegado o Senhor, três vezes o confessa; por três vezes se tinha tornado culpado, por três vezes obtém a graça pelo seu amor. Vede pois que benefício tirou Pedro das suas lágrimas!... Antes de derramar lágrimas, era um traidor; tendo derramado lágrimas, foi escolhido como pastor: aquele que se tinha portado mal recebeu o encargo de conduzir os outros.

(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 11 abr. 2006.).

Saturday, April 08, 2006

S. Leão Magno (? - cerca de 461), papa e doutor da Igreja: 8ª homilia sobre a Paixão.


"Era para reunir na unidade os filhos de Deus dispersos"
"Uma vez erguido da terra, atrairei tudo a mim" (Jo 12,32). Oh poder admirável da cruz! Oh glória inefável da Paixão! Ali se encontra o tribunal do Senhor, ali o julgamento do mundo, ali o poder do crucificado! Tudo atraiste a ti, Senhor, e quando, "durante um dia inteiro, estendias as tuas mãos a um povo incrédulo e rebelde" (Is 65,2; Rm 10,21) todos receberam a inteligência para confessar a tua majestade. Tudo atraiste a ti, Senhor, porque todos os elementos da natureza pronunciaram a sua sentença..., a criação inteira recusou servir os ímpios (Mt 27,45s). Tudo atraiste a ti, Senhor, porque, quando o véu do Templo se rasgou, o símbolo do Santo dos Santos manifestou-se verdadeiramente... e a Lei antiga conduziu ao Evangelho. Tudo atraiste a ti, Senhor, a fim de que o culto de todas as nações seja celebrado por um sacramento pleno, finalmente manifestado...
Porque a tua cruz é a fonte de todas as bênçãos, a origem de todas as graças. Da fraqueza da cruz, os crentes recebem a força; do seu opróbrio, a glória; da tua morte, a vida. Com efeito, agora a diversidade dos sacrifícioa chegou ao fim; a oferenda única do teu corpo e do teu sangue consome todas as diferentes vítimas oferecidas no mundo inteiro, porque tu és o verdadeiro Cordeiro de Deus que tiras o pecado do mundo (Jo 1,29). Tu completas em ti todas as religiões de todos os homens para que todos os povos não sejam mais do que um só Reino.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 08 abr. 2006.).

Friday, April 07, 2006

S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja: Sermões diversos, n° 22.


«Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai; por qual
dessas obras me quereis apedrejar?»
A Cristo Jesus deves toda a tua vida, uma vez que Ele deu a Sua vida pela tua e suportou amargos tormentos para que não suportes tormentos eternos... Quando tiveres reunido no teu coração todas as amarguras do teu Senhor, como tudo isso te parecerá doce!... Assim como os céus estão mais altos do que a terra (Is 55,9), assim a Sua vida está mais alta do que a nossa vida e, contudo, foi dada por ela. Assim como o nada não pode ser comparado a coisa alguma, assim a nossa vida não tem proporção com a dEle...
Quando lhe tiver consagrado tudo o que sou, tudo o que posso, isso será como uma estrela comparada com o sol, uma gota de água comparada com um rio, uma pedra com uma torre, um grão de areia com uma montanha. Não tenho mais que duas pequenas coisas, mesmo muito diminutas: o meu corpo e a minha alma, ou antes, uma única pequena coisa: a minha vontade. Não a darei Àquele que cumulou de tantos benefícios um ser tão pequeno como eu, Àquele que, entregando-se inteiramente, inteiramente me resgatou? De outra forma, se guardasse para mim a minha vontade, com que rosto, com que olhos, com que espírito, com que consciência iria refugiar-me junto do coração de misericórdia do nosso Deus? Ousaria penetrar nessa muralha fortíssima que guarda Israel e fazer correr, como preço do meu resgate, não algumas gotas mas as golfadas desse sangue que corre das cinco partes do seu corpo?


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 06 abr. 2006.).

Tuesday, April 04, 2006

S. Leão Magno (? - cerca de 461), papa e doutor da Igreja: 15º sermão sobre a Paixão.



"Quando tiverdes erguido o Filho do homem, compreendereis que
Eu sou"
Aquele que verdadeiramente venera a Paixão do Senhor deve olhar de tal forma Jesus crucificado com os olhos do coração que consiga reconhecer a sua própria carne na dEle... Nenhum doente vê ser-lhe recusada a vitória da cruz e não há ninguém que não encontre socorro na oração de Cristo; se ela aproveitou a muitos dos Seus algozes, quanto mais não ajudará os que se viram para Ele?!
Esta adopção da nossa natureza pela divindade, graças à qual "o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1,14), terá ela excluido algum homem da Sua misericórdia, a não ser que ele recuse a fé? Não tem o homem uma natureza comum com Cristo, se acolher Aquele que a assumiu e se tiver sido regenerado pelo Espírito que O gerou? Além disso, quem não reconheceria nEle as nossas próprias fraquezas..., nEle que "tomou a condição de escravo" (Fl 2,7)?...
É nosso, aquele corpo sem vida que jazia no sepulcro mas que ressuscitou ao terceiro dia e que, acima de todas as alturas celestes, subiu até à direita da majestade do Pai. Se caminharmos pela via dos Seus mandamentos e se não tivermos vergonha de confessar tudo o que Ele fez pela nossa salvação no rebaixamento da Sua carne, também nós seremos elevados até partilhar a Sua glória. Porque aquilo que anunciou cumprir-se-á de forma deslumbrante: "Aquele que se pronunciar por mim diante dos homens, também Eu me pronunciarei por ele diante do meu Pai que está nos céus" (Mt 10,32).


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 04 abr. 2006.).

Monday, April 03, 2006

Isaac de l’Etoile (?- c. 1171), monge cisterciense: Sermão 12.


Ele que era de condição divina... despojou-se de Si mesmo, tomando a condição de
servo» (Fl 2, 6-7)
O Senhor, Salvador de todos, «faz-se tudo para todos» (1Cor 9,12), por forma a revelar-se mais pequeno que os pequenos, Ele que era maior que os grandes. Para salvar uma alma surpreendida em adultério e acusada pelos demónios, rebaixa-se a escrever com o dedo na terra... Ele mesmo é essa santa e sublime escada que o viajante Jacob viu no seu sonho (Gn 28,12)..., escada dirigida da terra para Deus e estendida por Deus à terra. Quando quer, sobe até Deus, às vezes acompanhado de alguns..., às vezes sem que nenhum homem possa segui-Lo. E, quando Ele quer, reúne a multidão..., cura os leprosos, come com os publicanos e os pecadores..., toca os doentes para os curar.
Bem-aventurada essa alma que pode seguir o Senhor Jesus por todo o lado aonde Ele vai, subindo no repouso da contemplação... e, por outro lado, descendo pelo exercício da caridade, seguindo-o até se rebaixar no serviço, a amar a pobreza, a suportar... o cansaço, o trabalho, as lágrimas, a súplica, e finalmente a compaixão e a paixão. É que Ele veio para obedecer até à morte, para servir, não para ser servido, e dar, não ouro ou prata, mas o seu ensinamento e a sua assistência à multidão, a sua vida, pela multidão (Mc 10,45).
Que este seja pois para vós o modelo de vida, irmãos:... seguir Cristo subindo para o Pai, ...seguir Cristo descendo aos irmãos, não recusando nenhum exercício de caridade, fazendo-Se tudo para todos.
(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 03 abr. 2006.).

Sunday, April 02, 2006

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]: "Um só Senhor".


«Se morrer dará muito fruto»
Ser cristão é, antes de mais e sempre, arrancar-se ao egoísmo que vive exclusivamente para si, para se entrar numa grande orientação inabalável de vida de uns para os outros. No fundo, todas as grandes imagens escriturais traduzem esta realidade. A imagem da Páscoa..., a imagem do Êxodo..., que começa com Abraão e que se torna numa lei fundamental, ao longo de toda a história sagrada: tudo isso é a expressão desse mesmo movimento fundamental que consiste em repudiar uma existência virada sobre si mesma.O Senhor Jesus enunciou esta realidade da maneira mais profunda na comparação do grão de trigo, que mostra simultaneamente que essa lei essencial não só domina toda a História, como marca, desde o princípio, a criação inteira de Deus: «Em verdade vos digo, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se ele morrer, dará muitos frutos.»Na Sua morte e Ressurreição, Cristo cumpriu a lei do grão de trigo. Na Eucaristia, no pão de trigo, tornou-se verdadeiramente no fruto cêntuplo (Mt 13,8)de que vivemos ainda e sempre. Mas, no mistério da santa Eucaristia onde continua a ser para sempre Aquele que é verdadeira e plenamente «para nós», convida-nos a entrar, dia após dia, nessa lei que mais não é do que a expressão da essência do amor verdadeiro...: sair de si mesmo para servir os outros. O movimento fundamental do Cristianismo é, em última análise, o simples movimento do amor pelo qual nós participamos no próprio amor criador de Deus.


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 02 abr. 2006.).

Saturday, April 01, 2006

João Paulo II: “Deus, rico em misericórdia” nº 8.


“A multidão dividia-se a seu respeito”
No mistério pascal são ultrapassados os limites do mal multiforme no qual participa o homem durante a sua existência terrestre. A cruz de Cristo, com efeito, faz-nos compreender que as raízes mais profundas do mal mergulham no pecado e na morte. Assim ela torna-se um sinal escatológico: só no fim dos tempos e aquando da renovação definitiva do mundo para todos os eleitos o amor vencerá o mal nas suas fontes mais profundas.
No cumprimento escatológico, a misericórdia revelar-se-á como amor, enquanto que no tempo, na história humana que é também uma história de pecado e de morte, o amor deverá revelar-se sobretudo como misericórdia, e realizar-se sob esta forma. O programa messiânico de Cristo, programa de misericórdia, torna-se o do seu povo, da Igreja. Bem no centro deste programa perfila-se sempre a cruz, pois que nela a revelação do amor misericordioso atinge o seu auge.
O Cristo, o Cruxificado, é a Palavra que não acaba nunca. Ele é aquele que se mantém à porta e bate ao coração de cada homem, sem contrariar a sua liberdade, mas procurando fazer surgir um amor que seja não apenas acto de união ao Filho do homem sofredor, mas também uma forma de misericórdia manifestada por cada um de nós sob o olhar do Filho do Pai eterno. Poderia a dignidade humana, neste programa messiânico de Cristo e na revelação da misericórdia pela cruz, ser maior e mais respeitada, pois que este homem, se é objecto da misericórdia, é também, ao mesmo tempo, num certo sentido, aquele que exerce a misericórdia?


(FONTE: Disponível em: <http://evangelhoquotidiano.org/>. Acesso em: 1º abr. 2006.).